O que é? Onde vive? Do que se alimenta? É ver a vida com óculos cor de rosa? É viajar, olhar o pôr do sol e dizer ‘gratidão’? Neste post, o autoconhecimento desmistificado!
Quem já é “de casa” por aqui sabe o quanto eu gosto do tema autoconhecimento. O tal do “me descobrir” fez, e faz, uma diferença enorme na minha vida! Papo de ser um divisor de águas mesmo.
Essa palavra entrou na moda e a vemos em tudo que é lado. Mas você sabe exatamente o que é, ou como acontece, o autoconhecimento?
Vou compartilhar um pouco da minha concepção sobre o tema em um texto um pouco mais solto, e adoraria saber o que você acha e qual a sua experiência com isso!
O autoconhecimento desmistificado
Outro dia, uma amiga compartilhou este tweet:
“A gente precisa quebrar essa ideia de que autoconhecimento é um processo lindo, gostoso e ‘good vibes’. Autoconhecimento é sobre se libertar, e isso dói, incomoda, te tira da zona de conforto, te faz assumir responsabilidades e te faz ver que você já foi uma pessoa escrota”
@JulianaArv via @empodereduasmulheres
Ela tem total razão!
Autoconhecimento é lindo, mas não é gostoso. Não é good vibes. Não é a positividade tóxica da “geração gratidão” que você vê no Instagram.
“Autoconhecimento é sobre se libertar, e isso dói, incomoda, te tira da zona de conforto, te faz assumir responsabilidades”
Oh, yes!
É um processo longo e doloroso. É desconfortável.
Autoconhecimento é você se olhar no espelho e se ver nua e crua. Nua de alma. Despida de sua persona. Livre do seu ego.
Quem é você na sua camada mais profunda?
Isso inclui ver seu lado “feio”. Suas sombras. Reconhecer, admitir que você é “má, mentirosa, vaidosa e invejosa, mesquinha, grão de areia, boba e preconceituosa” – obrigada, Flaira!
[Aliás, se você ainda não conhece a Flaira Ferro, fica a sugestão: escutar a música Me Curar de Mim prestando atenção na letra]Autoconhecimento é ver a sua criança assustada e ferida, querendo amor e atenção, e acolhê-la, cuidá-la, permitir que ela brinque, ao invés de colocá-la de castigo – ou pior –, deixá-la governar a sua vida!
Autoconhecimento é reconhecer as polaridades existentes em nós. Yin-Yang. Masculino-Feminino. Luz-Sombra. Positivo-Negativo. Entender como essas energias opostas se manifestam na gente, em que momentos, e o que elas nos trazem de bom e de desafiador.
É olhar de frente para as suas sombras e as suas feridas mais profundas. Seus traumas de infância. Suas dores. Seus medos. Suas falhas.
É reconhecer que temos comportamento vitimista. Que culpamos a outrem pelas nossas expectativas frustradas e nossas infelicidades. Que não nos responsabilizamos pelas nossas ações e emoções.
Ah, emoções! Temos tantas! Autoconhecimento é também saber identificá-las, entender de onde vêm e o que fazer a respeito.
É deixar-se sentir raiva quando se sente raiva; deixar-se sentir tristeza quando se sente tristeza. Entender que está tudo bem sentir qualquer coisa que se sente. Isso mostra apenas que você está viva(o)!
É saber validar as suas emoções. Parar, respirar, observar, permitir-se sentir, acolher-se, deixar passar.
Autoconhecimento é perdoar-se – a si mesma(o), aos seus pais e a todos que potencialmente lhe magoaram. É ter empatia e compaixão para entender que todos estão lutando as suas batalhas com as melhores ferramentas que têm, sendo o melhor que podem ser com aquilo que têm. E que apenas podem dar aquilo que possuem, aquilo que receberam em sua vida.
Autoconhecimento é permitir-se ser vulnerável.
É assumir que se tem medo, vergonha, que sente ciúmes, inveja, que acha que não é suficiente. É reconhecer que às vezes a pessoa tóxica em uma relação é você. Que podemos ter sido arrogantes, rudes, impacientes – e então sentimos vergonha e escondemos isso sob outras camadas e por trás de mecanismos de defesa.
E nos sentimos mal por sentirmos isso. E aí nos sentimos mal por nos sentirmos mal. E isso pode virar um círculo vicioso maléfico. E entender que a única saída é assumir de vez nossas imperfeições. Nossa humanidade. Encarar as nossas sombras.
Conhecer-se é ter a coragem de ser vulnerável em dizer, em alto e bom som, que você tem medo de não ser amada(o). Que tem medo de rejeição. Dica: esta é a sua criança ferida desesperada por amor e atenção.
Autoconhecimento é também ter a coragem para amar. Amar sem a garantia de que se é amado de volta. É amar, apenas. Entender que o amor é seu, e não do outro. Amar é somar, e não dividir. Amar é ação – algo que se pratica –, e não passividade.
É entender que se você ama uma pessoa, você ama todas as pessoas, você ama a si mesma(o), você ama o mundo, você ama a vida!
Você ama. Verbo intransitivo.
Autoconhecimento é descobrir que, no fundo, em essência, somos apenas amor, mas com camadas e camadas de dor sobrepostas e encrustadas, que ofuscam nossa luz. Remover essas camadas dá medo, porque dói. Dói mesmo!
Autoconhecimento é entender que somos um ser minúsculo dentro de um contexto infinitamente maior do que nós mesmos. Que somos apenas um grãozinho de areia em uma imensidão muito mais imensa do que todos nós juntos. Que não passamos de um “vice-treco do sub-troço”, na brilhante definição de Mário Sérgio Cortella.
É compreender que há (muito) mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia.
Autoconhecimento é perguntar-se, sem a menor garantia de obter respostas, ‘quem sou eu e o que faço aqui’ em constantes crises existenciais. É filosofar, querer entender a origem da consciência, o que são os sonhos, o que há depois da morte, de onde vem a inteligência, o que é a mente – e se frustrar pela falta de soluções.
Autoconhecimento é descobrir suas potencialidades e seu propósito nesta existência. É entender, no fundo do seu ser, a que você veio ao mundo. Qual é o seu servir. Qual será sua contribuição para uma humanidade mais justa, mais autêntica, de mais amor e empatia.
Autoconhecimento é um processo de cura.
Conhecimento é poder, é liberdade!
É ter liberdade de escolher ter relacionamentos saudáveis, responsabilizar-se pela sua vida e suas escolhas, não deixar a sua criança controlar a sua vida, empoderar-se, ter um trabalho que lhe satisfaça, não se submeter a relações e situações degradantes moral e emocionalmente. É aumentar a autoestima, é conhecer seus limites, saber o que lhe faz bem, o que lhe traz alegria e poder escolher ter mais disso na vida, é saber o que lhe faz mal e poder escolher não ter mais isso na vida.
Autoconhecimento é se lembrar de quem se é em essência. De voltar à fonte. Voltar a ser uno com o Todo.
Você pode até pensar que isso é papo muito “tilelê” pra você. Isso não muda o fato de você ser um animal, ser composto basicamente por partículas em movimento, e de ter vindo do mesmo lugar que a poeira cósmica primordial do Universo. Tudo é energia!
E se conhecer é se conectar com a energia maior do Universo e encontrar uma fonte de amor infinito, abundante, dentro de si.
O mundo está precisando desesperadamente que mais e mais pessoas se lembrem do que são: amor. Que da natureza viemos e a ela voltaremos. Que somos parte do todo.
Conhecer-se implica amar-se. Amar a si mesma(o), à sua história, com todas as “imperfeições” e reviravoltas que ela tem.
Quando uma pessoa se conhece de verdade e acessa esse lugar de amor, ela é só amor. Ela não deseja mal ao outro. Ela não julga, ela não condena. Ela espalha só o bem. Ela acolhe, ela respeita. Ela vê o outro.
Uma pessoa ‘autoconhecedora’ é leve. Ela se diverte. Ela ri – inclusive de si mesma. Ela é good vibes de verdade! Sem precisar postar foto ao pôr do sol dizendo ‘gratidão’ no Instagram para provar isso. Mas se quiser, pode.
Ela se expressa, ela cria, ela usa seu potencial criativo para o bem. Ela deixa sua criança brincar, e a acolhe quando a tristeza aperta.
Ela encara as dificuldades do caminho com positividade, sabendo que tudo aquilo gerará valiosas lições para seu crescimento. Que ela é forte e isso também vai passar.
Ela confia no Universo, no fluxo da vida. Ela sabe, apenas sabe, que o Universo sempre conspira a favor. Ele sempre dá aquilo que desejamos com o coração e para o bem. Ele dá sinais e abre o caminho conforme começamos a caminhar.
Ela vive o presente, o Agora. Sem medo do amanhã. Totalmente entregue.
Quando ela chega a este lugar, ela olha para trás e pensa: não foi fácil, mas valeu a pena.
E segue, pois é para frente que se anda.
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