F.A.Q. Kungsleden: Informações práticas para você planejar a sua expedição - Suécia - 7 Cantos do Mundo

Perguntas é o que não faltam ao organizar uma longa viagem de caminhada na natureza, não é verdade? Reuni neste F.A.Q. da Kungsleden dicas práticas com (quase) tudo o que você precisa saber para planejar a sua própria expedição de 440 km na Lapônia Sueca.

FAQ = Frequently Asked Questions = perguntas mais frequentes

Kungsleden – dicas práticas

1. Kungsleden: que trilha é essa e onde fica?

Kungsleden (em inglês, The King’s Trail) significa, literalmente, “A Trilha do Rei”. É uma trilha de 440 km de extensão em sua totalidade, localizada na região da Lapônia, no norte da Suécia. Cerca de 70% da trilha se localiza acima do Círculo Polar Ártico!

A Lapônia é a região no norte da península escandinava, que abrange territórios de quatro países: Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia. Nesta região, vive o povo Sami, tradicionalmente conhecidos como lapões.

A ideia de existir uma trilha de hiking contínua nas montanhas da Lapônia Sueca surgiu ainda no final do Século XIX, e ganhou forças com ajuda da Swedish Tourist Association (STF). Planejou-se que a trilha deveria passar pelos locais mais bonitos da Suécia, assim tornando-se “o rei dos caminhos” (isso soa melhor em inglês: “the king of trails”).

A Kungsleden vem sendo chamada de “the last wilderness in Europe” (a última região selvagem na Europa), devido às suas extensas áreas protegidas que foram classificadas como reservas naturais, parques nacionais e Patrimônio Mundial da UNESCO.

2. Em que época fazer a Kungsleden?

O verão é a estação do ano adequada para fazer esta travessia, pois é quando a região atinge uma temperatura amena (média de 10 a 16°C) e os abrigos e lojas de comida da STF estão funcionando. Para ter mais chances da neve do período do inverno já ter derretido, é mais garantido iniciar a trilha a partir da segunda metade de junho, idealmente em julho ou, no mais tardar, início de agosto.

O interessante de ir no verão (junho a agosto) – e certamente o fator mais maluco para nós brasileiros – é que o sol praticamente não se põe! Durante alguns dias, ele fica sempre acima da linha do horizonte, dia e “noite”. Então, não chega a ficar 100% escuro; fica no máximo um crepúsculo entre meia noite e 02:00.

Mais cedo do que junho, pode ainda haver muita neve no caminho, tornado-a mais difícil e, talvez, perigosa. Mais tarde do que agosto, é possível que você pegue temperaturas muito frias e início da nova temporada de neve – o que aconteceu com o grupo do documentário da Distant North.

Nota: é possível fazer a trilha Kungsleden no inverno, de  esqui, o chamado cross-country skiing. Há demarcações próprias para o percurso feito de esqui, que muitas vezes é diferente do percurso a pé (do verão).  Porém, o foco aqui é na atividade de caminhada (hiking).

3. Qual a extensão da trilha?

A Kungsleden completa se estende por 440 km (ou, segundo as minhas anotações, 443 km) entre Abisko, no extremo norte da Suécia (acima do Círculo Polar Ártico), e Hemavan, mais ao sul e mais próximo da fronteira com a Noruega. Desses, 17 km foram percorridos em barco, e 426 km, a pé, em trilhas com graus de dificuldade variados.

A trilha é composta basicamente de três seções:

  • Norte: 183 km de Abisko a Kvikkjokk
  • Central: 182 km de Kvikkjokk a Ammarnäs
  • Sul: 78 km de Ammarnäs a Hemavan

É possível fazer a travessia no sentido norte > sul ou no sentido sul > norte.

4. Eu preciso necessariamente fazer a Kungsleden inteira?

Não. Você pode fazer apenas o trecho norte (Abisko a Kvikkjokk) ou apenas o trecho sul (Ammarnäs a Hemavan). A seção central até é possível de fazer “sozinha” (só ela), mas não creio que seja a mais interessante. As seções norte e sul têm mais estrutura e, na minha opinião, paisagens mais bonitas.

5. Quantos dias eu preciso para fazer a Kungsleden?

Depende do seu ritmo. Se for fazer apenas os trechos sul ou norte, reserve de 6 a 8 dias de caminhada, respectivamente.

Se for fazer a Kungsleden completa: tomando as acomodações ao longo do caminho como referência de pernoite, a trilha é composta de aproximadamente 27 etapas. Você pode se ater a elas, fazendo uma por dia (portanto, em 27 dias de caminhada), ou emendar 2 trechos consecutivos em alguns momentos.

Eu recomendo reservar no mínimo 25 dias somente para a caminhada entre Abisko e Hemavan (se seu ritmo de caminhada for bom), e não esqueça de incluir os dias de deslocamento Estocolmo – Abisko (1 dia), Hemavan – Estocolmo (1 dia) e seu local de origem – Estocolmo (ida e volta: 2 dias). Ou seja, um total de, no mínimo, 29 dias.

É possível fazer em menos dias? Sim. Vimos pessoas no caminho caminhando em média +30 km por dia, o que reduz consideravelmente o número total de dias. Mas, neste caso, o seu ritmo tem que ser muito bom! Afinal, são muitos trechos longos com ganho de elevação, aguaceiros, pedras etc, o que torna os percursos bem cansativos.

Nós havíamos planejado fazer a trilha completa em aproximadamente 35 dias (incluindo uns 4 dias de descanso), mas acabamos fazendo em 25 dias (24 de caminhada e 1 de descanso), assim distribuídos:

  • Norte (183 km de Abisko a Kvikkjokk): 12 dias + 1 dia de descanso em Kvikkjokk
  • Central (182 km de Kvikkjokk a Ammarnäs): 7 dias
  • Sul (78 km de Ammarnäs a Hemavan): 5 dias

Veja aqui as etapas da trilha completa

6. Quantos quilômetros se caminha por dia?

Novamente: é bastante variável, e depende basicamente de você. Há etapas entre duas cabanas de apenas 9 km, e outras de mais de 20 km. Dependendo da sua disponibilidade de tempo, interesse e condicionamento físico, é possível fazer mais de um trecho em um só dia. Nós emendamos 2 trechos consecutivos por 3 vezes (pulamos a cabana de Vakkotavare, a cidade de Ammarnäs e a cabana de Viterskalet).

7. Dá para fazer a trilha de forma autônoma?

Perfeitamente. Aliás, eu só vi pessoas fazendo de forma autônoma.

8. A trilha é bem sinalizada?

Sim. Na maior parte dos 440 km, você vê as marcações vermelhas nas rochas, além de placas, indicando o caminho. Apenas no trecho central houve dias em que ficamos sem ver as marcações, mas a trilha era bem demarcada e não houve dúvidas. Além disso, por garantia eu estava com o aplicativo da STF em mãos (ver item adiante).

9. Como é a navegação na trilha?

De maneira geral, na Kungsleden é tranquilo de se orientar apenas com as marcações vermelhas e placas. No entanto, eu recomendo que você tenha os mapas em mãos, para conhecer o percurso que lhe espera a cada dia.

Mapas

Comprei os nossos mapas na loja online Kartbutiken. Para cobrir os 440 km da trilha, foram necessários os seguintes mapas:

  1. Abisko-Kebnekaise-Nikkaluokta
  2. Nikkaluokta-Sarek-Saltoluokta
  3. Saltoluokta-Padjelanta-Kvikkjokk
  4. Kvikkjokk-Jäkkvik
  5. Jäkkvik-Ammarnäs
  6. Ammarnäs-Hemavan- Lill-Björkvattnet

Eles tinham escala 1:75.000. Recomendo comprar em pelo menos essa escala, não mais distante que isso.

Aplicativo

Além dos mapas em papel, eu baixei o aplicativo oficial da STF (STF I FJÄLLEN), pelo qual você consegue baixar os mapas da região para usar offline. O bacana é que, mesmo sem sinal, o GPS funciona, de modo que você consegue ver se está on track. 

Importante: Pelo que eu me lembre, ele era só em sueco, não tinha opção de mudar para o inglês. Assim, recomendo que você sente com calma antes da viagem para ir tentando se entender com a app, traduzindo o que for preciso para conseguir chegar na parte de fazer download dos mapas.

Tracklogs

Eu gravei o máximo de tracklogs que eu pude com o aplicativo do Wikiloc. Não consegui registrar todos os dias por problemas técnicos (basicamente, celular acabar a bateria por causa do vento gelado) :P.

Siga o meu perfil no Wikiloc com todas as minhas trilhas salvas

10. É preciso pegar transportes no meio do percurso?

Sim. São 6 travessias de barcos obrigatórias, 1 opcional, 1 trecho de ônibus e 1 balsa. Na ordem em que aparecem (no sentido Abisko > Hemavan):

  • Barco (lancha) entre Abiskojaure e Alesjaure (opcional): 4 km
  • Barco (a remo grátis ou lancha paga) saindo de Teusajaure: 1 km
  • Ônibus de Vakkotavare a Saltoluokta: 30 km
  • Balsa do ponto de parada do ônibus até Saltoluokta
  • Barco (lancha) saindo de Sitojaure: 4 km
  • Barco (lancha) saindo de Aktse: 4 km
  • Barco (lancha) saindo de Kvikkjokk: 3 km
  • Barco (lancha) saindo de Vuonatjviken: 5 km
  • Barco (a remo) entre Vuonatjviken e Jäkkvik: 0,5 km

11. Quanto custa fazer a trilha Kungsleden?

Eu gastei 18.389 SEK  (o que daria aproximadamente R$ 7.171,71 no câmbio de agosto de 2017) para toda a expedição, de Estocolmo a Estocolmo, incluindo os 25 dias de trilha (de Abisko a Hemavan).

Nota: A moeda da Suécia é a Coroa Sueca (SEK), cuja cotação para o Real estava aproximadamente 1 SEK = R$ 0,39 ou R$ 1,00 = 2,56 SEK em agosto de 2017. Para uma estimativa mais acurada e atual, sugiro converter os valores de SEK para Real no Google.

Veja aqui os gastos detalhados para fazer trilha Kungsleden

12. Precisa reservar os pernoites previamente?

Não é obrigatório, mas é altamente recomendável. As cabanas não são muito grandes, e se lotar, lotou. Isso é mais crítico quando se está mais próximo do início (ou fim) da trilha – por exemplo: mais perto de Abisko – onde há um movimento maior de pessoas (muitas caminham somente alguns dias por ali e voltam).

A reserva das STF Mountain Cabins não é específica, isto é, você reserva aquele tipo de cabana (há dois tipos: de 310 SEK ou de 370 SEK, referência: 2017), e pode usar aquela reserva numa janela de 15 dias para mais ou para menos da data que você escolheu no momento da compra. Você escolhe quantas cabanas de 310 e quantas cabanas de 370 você quer incluir no seu carrinho do site.

O que nós não reservamos previamente e correu tudo bem: albergue em Jäkkvik, chalé em Adolfström, STF Kvikkjokk Mountain Station.

Veja aqui os tipos de cabanas no site da STF

13. Vale a pena se associar à STF?

Eu julgo que sim. Sendo membro da STF, você tem um belo desconto no pernoite nas cabanasA filiação custou 435 SEK (em julho de 2017), valeu para o período de 1 ano, e não é automaticamente renovada.

14. Precisa fazer seguro viagem?

Sim. O seguro viagem não só é obrigatório a nós brasileiros viajando na Europa, como é também de extrema importância no caso de esportes e atividades outdoor.

Leia mais: Seguro Viagem: o que é, por que é importante e como contratar

15. Como chegar a Abisko?

Trem a partir de Estocolmo (18 horas e meia de viagem).

16. Como partir de Hemavan?

Avião de Hemavan a Estocolmo, ou então: ônibus de Hemavan até Umeå, e ônibus ou trem de Umeå a Estocolmo.

17. Precisa levar comida para toda a trilha?

Não. Você pode ir comprando nas lojas das cabanas ao longo do caminho. Há lojinhas a cada mais ou menos 2 dias.

Veja aqui mais detalhes sobre os tipos e valores das comidas no caminho

18. Dá para tomar banho?

Em aproximadamente metade dos dias, é possível tomar banho.

Banho de chuveiro:

  • STF Abisko Mountain Station
  • STF Saltoluokta Mountain Station
  • STF Kvikkjokk Mountain Station
  • Albergue Kyrkans Fjällgård em Jäkkvik
  • Chalé em Adolfström

Banho de caneca nas saunas a lenha:

  • STF Abiskojaure Mountain Cabin
  • STF Alesjaure Mountain Cabin
  • STF Sälka Mountain Cabin
  • STF Kaitumjaure Mountain Cabin
  • STF Teusajaure Mountain Cabin
  • STF Aktse Mountain Cabin
  • STF Aigert Mountain Cabin
  • STF Tärnasjö Mountain Cabin

*O banho de caneca nas saunas é quente, pois eles esquentam água do rio em um boiler que fica junto ao forno a lenha.

Sem banho:

  • STF Tjäktja Mountain Cabin
  • STF Singi Mountain Cabin
  • STF Vakkotavare Mountain Cabin
  • STF Sitojaure Mountain Cabin
  • STF Pårte Mountain Cabin
  • STF Serve Mountain Cabin
  • STF Syter Mountain Cabin
  • STF Viterskalet Mountain Cabin
  • Alguns pernoites em barraca ou abrigos de emergência na seção central (no nosso caso, foram 5)

19. Tem banheiro?

Sim, durante todo o caminho (os 440 km). Porém, na maior parte do tempo, é banheiro seco, em uma casinha externa. Até mesmo nos locais de acampamento e próximo aos abrigos de emergência, havia um banheiro.

Em resumo: não precisei fazer cocô no mato em nenhum dia!

20. Tem wi-fi e/ou sinal de celular?

A maioria dos lugares de pernoite não tem wi-fi e/ou sinal de celular.

  • Onde certamente tem sinal e wi-fi: nas mountain stations, no albergue em Jäkkvik;
  • Onde tem sinal apenas: cidadezinhas de Adolfström e Ammarnäs;
  • Onde certamente não tem sinal nenhum: nos primeiros 7 dias, entre Abiskojaure e Vakkotavare
  • Onde às vezes tem sinal, mas é ruim e raro: nas demais mountain cabins.

21. Tem energia elétrica?

A maioria dos lugares de pernoite não tem eletricidade. Os únicos lugares de pernoite com eletricidade foram as mountain stations, o albergue em Jäkkvik, o chalé em Adolfström. Invista em power banks. Eu levei dois de 13.000 mAh e um de 10.400 mAh e não passei necessidade.

22. Nas cabanas: aceitam cartão ou só dinheiro?

Os dois, depende da cabana. Confesso que eu me surpreendi com isso, não imaginei que em lugares tão remotos, sem energia elétrica, fossem aceitar cartão. Mas o fato é que em muitos aceitam.

Veja aqui em detalhes tudo sobre as acomodações e estrutura da Kungsleden

Dicas extras

Enviar caixa entre as Mountain Stations

As Mountain Stations (o tipo de abrigo mais completo da Kungsleden) permitem que você envie coisas para si mesmo de uma à outra, transporte que é feito pela empresa de ônibus Bussgods. Se forem mantimentos, o ideal é colocar em uma caixa. Note que os refúgios apenas armazenam o seu pacote, mas é você quem tem que entrar no site da Bussgods e agendar a retirada no local desejado (ex: na STF Abisko Mountain Station).

Mosquitos, muitos mosquitos

Ao contrário do que diria a nossa intuição ao pensar no Ártico, a Lapônia no verão é infestada de mosquitos! Mas muitos mesmo! Chega a ser irritante como eles ficam na sua cara, te rodeando e te picando onde encontram pele disponível. Mesmo que você não seja alérgico, não vacile: leve repelente.

Recomendo comprar o repelente sueco Mygga que, além de ter um cheiro bom e não “tóxico”, é eficiente contra os insistentes e insaciáveis mosquitos de lá.

Nota: O projeto da Expedição Kungsleden foi idealizado por Elias Luiz, do Portal Extremos. Eu fui convidada, após um processo de seleção, e participei somente como acompanhante. Recebemos apoio de diversas marcas, mas não remuneração. Todos os custos da viagem foram pagos por mim.

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Laura Sette

Paulistana, leonina, Manifestadora Esplênica 3/5 e a doida do autoconhecimento. Comecei a viajar e não quis parar mais! Já morei em 5 países. Acredito que a vida é muito mais do que viver em um único lugar para pagar boletos. Em 2016, saí da Matrix e vivo no fluxo por aí. Viajo, escrevo, me expresso como der na telha e levo a vida com bom humor. Troquei uma carreira corporativa para viver uma vida mais autêntica e explorar os 7 Cantos do Mundo! Vamos juntos?

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