Onde dormir na Lapônia? Os tipos de abrigos e a estrutura da Kungsleden

Ao começar a planejar sua travessia pela Lapônia, você já deve estar se perguntando: onde vou dormir em cada dia da trilha? Fique tranquilo, que vou lhe contar sobre os tipos de abrigos e estrutura ao longo da Kungsleden, nos 440 km entre Abisko e Hemavan.

Eu diria que a Kungsleden é uma trilha até que bastante confortável, já que se pode contar com o excelente apoio dos abrigos da STF (Svenska Turistföreningen = Swedish Tourist Association), a associação turística que mantém a maior parte da trilha.

Claro, se você quiser acampar durante o trajeto todo, é possível – e certamente mais barato. Porém, se quiser dormir com conforto e quentinho, as cabanas estão aí para isso.

Além dos abrigos da STF, há outros tipos de acomodação ao longo do caminho (com níveis de estrutura e conforto variáveis), e até mesmo nenhuma. Isso mesmo, há dias em que dormir na barraca não é facultativo, e sim a única opção. Mas é em uma pequena parte da trilha somente.

Vamos lá?

Conheça mais sobre a trilha Kungsleden e como eu fui parar lá

Tipos de abrigos e estrutura da Kungsleden

Mountain Station

Em sueco: Fjällstation.

Este é o tipo mais completo de acomodação da Kungsleden. É uma estação de montanha completa, mantida pela STF, no estilo hotel mesmo. Tem quartos coletivos e privativos, banheiro “normal”, água encanada, chuveiro quente, energia elétrica, wi-fi, máquina de lavar roupa, cozinha, loja e lanchonete.

É o caso de:

• STF Abisko Mountain Station
• STF Saltoluokta Mountain Station
• STF Kvikkjokk Mountain Station
• STF Hemavan Mountain Station

Mountain Cabin

Em sueco: Fjällstuga.

Este é o tipo de acomodação mais frequente na Kungsleden. É uma cabana de madeira, mantida pela STF, com alguns poucos quartos coletivos (com beliches), sem energia elétrica, sem água encanada, com banheiro seco externo, com cozinha com mini fogão a gás para uso, podendo ter sauna (banho de bacia) ou não (sem banho).

É o caso de:

• STF Alesjaure Mountain Cabin
• STF Tjäktja Mountain Cabin
• STF Sälka Mountain Cabin
• STF Singi Mountain Cabin
• STF Kaitumjaure Mountain Cabin
• STF Teusajaure Mountain Cabin
• STF Vakkotavare Mountain Cabin
• STF Sitojaure Mountain Cabin
• STF Aktse Mountain Cabin
• STF Pårte Mountain Cabin
• STF Aigert Mountain Cabin
• STF Serve Mountain Cabin
• STF Tärnasjö Mountain Cabin
• STF Viterskalet Mountain Cabin
• STF Syter Mountain Cabin

As cabanas da STF são bem padronizadas, não diferem muito entre si nos tipos de cômodos e nos utensílios que oferecem. Elas também têm a mesma dinâmica de uso da cozinha e de limpeza: todos colaboram com um pouquinho e ninguém fica sem. A ideia é: viu algo por fazer? Faça.

No abrigo, há sempre um host, um funcionário da STF que permanece ali, em um quarto separado, por algumas semanas durante a temporada para orientar os recém-chegados, cuidar da lojinha e resolver o que mais precisar.

Como as cabanas são o pernoite mais comum da trilha, vou contar um pouquinho mais sobre alguns aspectos delas. Essas regrinhas são válidas para todas as Mountain Cabins; nas primeiras vezes, o host orienta na chegada, depois, você já pega o jeito e faz tudo automaticamente.

STF Kaitumjaure Mountain Cabin

Quartos

Os quartos são sempre coletivos, com número variável de beliches. Tem travesseiro e edredom, e eles te orientam a usar seu jogo de lençol ou saco de dormir. Possuem, ainda, um forninho a lenha para aquecimento.

Eletricidade

Não tem. Supera. Leve carregadores externos potentes, lanterna e pilhas.

Água

Não há água encanada, então é preciso buscar água limpa com baldes nos rios ou em outra fonte de água – há sempre um ponto certo para pegar (pergunte ao host ou veja as placas).

Prepare-se para beber uma água muito, mas muito gostosa!

A água que entra na cabana é usada para beber, cozinhar e lavar a louça – somente. Não pode se lavar ou lavar peças de roupa dentro da cabana.

Da mesma forma que a água entrou, ela precisa sair. A água suja de sabão e gordura é levada em baldes para fora da cabana, e é despejada em um reservatório próprio para isso.

Banheiro

Nas cabanas, o banheiro é sempre do lado de fora e seco. Ou seja, é uma casinha, sob a qual há um fosso, e dentro há somente uma “caixa” de madeira com um buraco redondo servindo de vaso sanitário. Não faça essa cara, juro que ele é super tranquilo de usar! A “privada” tem até assento e tampo – no caso, de isopor e madeira.

Incrivelmente, ele não cheira a fezes. No início, eu sentia um cheiro forte e penetrante, fiquei em dúvida se seria amônia (bem possível) ou algum produto que eles colocavam para neutralizar odores piores. Mas o fedor clássico de xixi e cocô prometo que não tem!

Sauna

Aproximadamente metade das cabanas da STF possui sauna, o que significa que, além de relaxar a musculatura após um duro dia de caminhada, você tem a possibilidade de tomar um banho. Bem, de bacia e canequinha, mas ainda assim um banho! E quente, tá? Porque a gente esquenta a água no forno da sauna, que é a lenha.

Sério, você agradecer muito aos lapões por terem esse costume, viu! Ô coisa boa!

A sauna só fica disponível para uso no fim do dia (normalmente a partir das 17 ou 18h), e eles dividem em turnos: mulheres, homens, e misto.

Importante dizer:

• Eles fazem sauna nus – sim, inclusive a mista;
• O ritual da sauna requer intercalações do calor com um banho gelado – no caso da Lapônia, leve o gelado muito a sério, já que o rio onde eles saem para se banhar muitas vezes é de água de degelo!

Lojinha

Várias cabanas (mais ou menos dia sim, dia não) possuem uma lojinha que vende mantimentos, tais como: comida liofilizada, comida enlatada, pão (de centeio, que dura mais), bisnagas de queijos cremosos (puro, com presunto, com carne de rena), aveia e outros grãos, barras de cereais, biscoitos, salgadinhos, mistura pronta para panqueca, mini potinhos de leite, mini sachês de café solúvel, mini potinhos de Nutella e geleia (iguais àqueles de hotel), refrigerantes, cerveja, alguns tinham até bananas e maçãs.

Comentário aleatório e curioso: uma das lojas tinha a maçã da Turma da Mônica, acredita?? Juro! Também não entendi nada!

Além de comida, há alguns outros itens básicos, como: cartucho de gás para fogareiro, fósforos, repelente, itens para primeiros socorros, dentro outros.

Algumas lojinhas aceitam cartão, outras somente dinheiro (SEK – coroas suecas). Há lojas mais completas, e outras mais simples. Na tabela abaixo, marquei com as letras S (small), M (medium) e L (large) para especificar o tamanho da loja do abrigo em questão.

Ou seja: não há necessidade de carregar muita comida com você o tempo todo (o que aumenta muito o peso da mochila), já que você consegue tranquilamente ir comprando comida ao longo do caminho, e se planejando para no máximo 1 ou 2 dias adiante.

Limpeza

Botas e tênis emporcalhados não passam da porta. As cabanas têm uma ante-sala para deixar os sapatos. Lá dentro, pode usar apenas chinelo, Crocs, pantufa ou meias.

Antes de partir na manhã seguinte, eles esperam que você arrume sua cama (obviamente) tal qual a encontrou, e que você (alguém do quarto) passe uma vassoura.

STF Aktse Mountain Cabin

Abrigos (de emergência)

Em sueco: Stuga.

Os abrigos de emergência são pequenos e não necessariamente da STF. Há vários espalhados ao longo de toda a trilha. São ótimos para parar para descansar e comer no meio do dia de caminhada, abrigados do tempo (que muitas vezes não é lá muito amigável).

Podem ser bem simples – praticamente apenas teto e paredes, uma mesa, um banco de madeira e um forno a lenha para aquecimento, para abrigo em caso de tempestades, por exemplo –, ou podem ter uma estrutura razoável, alguns chegando até a ter algumas camas e cozinha.

Os abrigos também não têm água encanada, mas sempre têm um banheiro seco externo.

Como o próprio nome diz, eles são para emergência. Nós acabamos passando três noites nesse tipo de abrigo, pois choveu bastante em alguns dias e a temperatura caiu muito (para 0°C e até negativa, já na segunda metade de agosto).

Foi o caso de:

• Tsielekjåkkstugan
• Sjnjultjiestugan
• Rävfallsstugan

Albergue

Na pequenina cidade de Jäkkvik, tem um  albergue, o Kyrkans Fjällgård. Foi um verdadeiro salvador da pátria para mim, após dias de chuva, sem banho e pés constantemente encharcados. Banho quente, cama, wi-fi, cozinha  e máquina de lavar roupa (essa, gratuita ainda por cima)!

Na vila, há uma loja de conveniência em um posto de gasolina que tinha tudo que precisávamos, e mais um pouco.

Camping

Nas cidades de Adolfström e Ammarnäs tem camping (pago e com estrutura de cozinha e banheiro). É possível que em Jäkkvik também tenha.

Nas duas noites que dormimos em barraca, uma foi camping selvagem (em Piteälven) – mas em uma área muito boa e certamente sempre utilizada para isso, pois havia até um banheiro (seco) ali! – e outra no gramado no meio de um vilarejo de chalés particulares (em Vuonatjviken), onde também havia uma casinha (banheiro).

Em todas as mountain cabins, você pode acampar no terreno, pagando uma taxa para utilizar a cozinha dentro da cabana.

Chalé

Na cidadezinha de Adolfström, optamos por dormir em um tipo de chalé que conseguimos alugar por um preço justo. Era mais uma quitinete, na verdade, no andar superior de uma casa grande. O banheiro era externo, mas era “normal”, com água encanada.

Estrutura da Kungsleden dia a dia

Agora que você já sabe o que significa cada tipo de acomodação, isto é, em que condições vai dormir na Kungsleden, vamos ver como é essa distribuição no dia após dia da trilha.

De maneira resumida, o que cada abrigo oferece em termos de estrutura é:

Legenda

• Y = Yes
• N = No
• Y (bowl) = Banho de caneca na sauna
• Letras S, M e L entre parênteses na coluna da loja = Small, Medium, Large (tamanho da lojinha)

Espero que este post tenha lhe ajudado a entender os abrigos e a estrutura da Kungsleden, e que, munido dessas informações – e das dos demais posts da série – você consiga planejar sua expedição à Lapônia! 🙂

Nota: O projeto da travessia da Kungsleden foi idealizado pelo Portal Extremos. Eu fui convidada, após um processo de seleção, e participei somente como acompanhante. Recebemos apoio de diversas marcas, mas não remuneração. Todos os custos da viagem foram pagos por mim.

Que tal salvar este pin para consultar mais tarde? 🙂