04/10/2017 — Hoje faz 1 ano que cheguei à Dinamarca!
E cheguei já de mala e cuia, mesmo sem ter visto pra ficar, ou alguma pista se eu iria gostar do tal país dos Vikings. Larguei tudo e fui sem pestanejar nem olhar para trás.
“Ah, eu já fiz dois intercâmbios e várias viagens, vou tirar isso de letra!” — pensei.
Tolinha. Mal sabia eu que se mudar de vez para outro país são outros 500! Tem sido uma experiência totalmente nova para mim! E, de fato, bem mais desafiadora do que eu imaginei.
Foi um ano bom, no sentido de que trouxe muito crescimento e aprendizados. Mas não posso dizer que foi um ano fácil, tranquilão, não. Tive muito mais dificuldades emocionais do que eu imaginaria. Logo eu, que me julgava tão madura-sabichona-desapegada!
Pois é, mas largar tudo para uma grande mudança é sempre um baque, não tem como não ser. Vou contar quais foram as principais coisas que aprendi após 1 ano morando na Dinamarca.
1. Achar normal viver em uma geladeira
Sempre caímos nesse assunto, não tem jeito. O clima nas terras nórdicas não é algo que se possa ignorar — ainda mais para nós brasileiros, acostumados àquele clima “mamão com açúcar” das terras tupiniquins.
Aqui, a realidade é outra. Estamos falando de um país cuja média anual de temperatura é 7,7°C! É realmente temperatura de uma geladeira… 😛
E não é só no inverno que o bicho pega. Morar na Dinamarca é se acostumar com um frio gélido quase que constante. Faz frio (um frio chato) na maior parte do ano, por cerca de 7 a 8 meses!
Mas e aí, o que se pode fazer? Se nos propusemos a vir morar aqui por um tempo, temos que nos adequar ao lugar, né? Tivemos que aprender a conviver com o frio. Até mesmo achá-lo normal — o que não quer dizer que eu goste dele. Mas não odiá-lo já é um bom começo.
2. Chamar um lugar estranho de “lar”
Este talvez seja o aprendizado mais difícil, por ser também bastante subjetivo. Afinal, qual é definição de “lar”? Lar é onde o coração está — dizem. De fato, o significado de lar é bastante pessoal.
Lar não é necessariamente onde nascemos e crescemos, tampouco é um lugar único. Uma pessoa pode ter muitos lares, ou nenhum! Vide os nômades digitais e outros viajantes de longo prazo (todos meus ídolos!), que não têm uma morada fixa por muito tempo e, provavelmente, não se sentem tendo um lar em nenhum lugar específico, e sim, talvez, em todos os lugares.
Bom, fato é que, morando fora por um tempo um pouco mais longo, você é meio que obrigada a chamar um lugar totalmente novo de “casa”. E isso no começo é bem estranho! Dá um nó na cabeça. Você não se identifica com aquele lugar, ele não te traz nenhuma referência. E, mesmo assim, é ali que você está todo santo dia. E é pra lá que você volta quando você viaja no fim de semana.
No começo, foi difícil aceitar essa nova realidade. Sua cabeça diz que ali agora é seu lar, mas o seu coração diz outra coisa. Demorei para realmente conseguir considerar Copenhague como minha casa. Talvez isso explique, em parte, eu ter querido fazer tantas viagens no primeiro semestre deste ano, o que até me levou à estafa!
3. Minimalismo é o caminho
Não é de hoje que venho estudando o Minimalismo e aplicando-o cada vez mais à minha vida. Porém, morar 1 ano fora me deu a oportunidade de adotá-lo de maneira ainda mais efetiva. Afinal, estávamos começando uma nova vida, em uma nova casa, em um novo país, do zero!
E gente, vamos combinar? Foi-se a época do consumismo desenfrado e da acumulação de coisas materiais, né? Quem está minimamente antenado à situação do nosso planeta já deve ter começado a mudar os hábitos de consumo de um modo geral. Se não começou ainda: Alô, pessoa! Planeta-Terra-morrendo-sem-recursos-naturais chamando!
O Minimalismo veio para ficar. Fato.
Na mudança, levei relativamente poucas coisas pessoais, e compramos aqui apenas o essencial para um lar funcional. Nossa casa é super básica e, assim, tende a ficar mais clean e organizada (vou escrever um post só sobre isso).
Nós não temos espaço infinito nos armários, e tudo bem! Nossas coisas couberam tranquilamente. Isso ainda considerando que, mesmo tendo relativamente pouca roupa, eu nem cheguei a usar tudo o que eu trouxe do Brasil. Ou seja, eu poderia ter trazido (na verdade, eu poderia possuir) ainda menos!
Por fim, não preciso nem dizer o quanto ter hábitos minimalistas me facilitou viajar, né? Tenho viajado aqui pela Europa (ainda mais considerando que as low costs cobram pela mala despachada) apenas com uma mochila pequena. E adivinha se eu precisaria de mais do que cabe nela? Resposta: não.
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4. Estar longe da família não é algo trivial
Não é nada fácil estar longe de quem amamos. Tá, isso parece só completamente óbvio. E é mesmo.
Mas eu aprendi (e senti) isso na prática. Eu nunca havia passado tanto tempo longe da minha família. E durante este ano, eu percebi o quanto nós somos apegados —num bom sentido. A falta que eles me fizeram (e fazem) é tanta que eu cheguei a refletir se quero mesmo levar uma vida itinerante “pra sempre”. Não tenho ainda uma resposta pronta; é um assunto complexo. Mas sei que, independentemente do caminho que eu escolha, ficar muito tempo longe deles não será uma opção.
A internet, os gadgets modernos e os novos aplicativos ajudam? Ajudam. Resolvem? Não. Ameniza um pouco, mas — pelo menos pra mim — faz muita diferença não poder abraçar meus queridos, conversar no tête-à-tête e passar tempo juntos.
E os almoços de domingo, em que eu ficava tendo ataque de bobeira e de risos com meus irmãos? #comofas
A saudade continua. E ela doi, doi muito mesmo. É um vazio que inunda o peito de uma forma que eu nunca havia sentido antes… 🙁
5. Você perde um pouco a sua identidade
Mudar de país implica necessariamente uma certa perda de identidade. De um modo geral, você muda a sua noção de pertencimento. Você está em um lugar novo, onde ninguém te conhece, ninguém sabe a história da sua vida, ninguém tem estereótipos ou pré-conceitos sobre você. Nem você mesmo. Você vira um Zé Ninguém em terra nenhuma.
Por ter menos contato com a própria cultura, você também começa a se sentir menos brasileira e mais cidadã “de lugar nenhum”. Você passa a sentir que não pertence a lugar algum. Isso é bom e é ruim ao mesmo tempo — é um sentimento difícil de explicar.
Você se vê de repente meio perdida. Tudo aquilo que você pensava que sabia e era verdade sobre si mesma, você percebe que não passava de uma construção social, da construção da sua persona.
Quem sou eu, afinal? Muitas questões existenciais te acometem com frequência.
6. Inventar o próprio trabalho é um baita desafio!
Essa perda de identidade se aplica também a você como profissional: você abandonou o seu trabalho antigo, aquilo que você dizia ser a sua profissão. No meu caso, mais especificamente, isso foi ainda mais acentuado, já que eu troquei um trabalho certo pelo total desconhecido.
Mas claro que isso não é de todo ruim — pelo contrário, há uma grande vantagem nisso!
Você tem a chance de reescrever a sua história, começar do zero. Você abandona o antigo “eu” e inventa um novo, do jeito que você quiser! E, se você fizer direitinho, esse novo “eu” será muito mais alinhado com a sua essência e te deixará verdadeiramente feliz. 🙂
Eu já estava infeliz com aquilo em que trabalhava mesmo, então aproveitei a deixa para me reinventar.
MAS… ninguém falou que seria fácil, não é mesmo? Porque vou contar um negócio procês: é um baita desafio!
Exige muita atitude, dedicação, foco, energia, organização, disciplina, iniciativa. Além de introspecção e reviravolta de coisas lá do fundo do seu baú. Mas exige, principalmente, autoconfiança e autoestima — coisas essas nas quais eu nunca fui lá muito boa. 😛
Vida de freelancer/autônoma não é moleza, não! É um exercício constante de dar a cara a tapa e sair da zona de conforto.
Faço mil coisas e, ainda assim, não consigo resumir em uma frase “o meu trabalho é isso“. Sempre me embanano toda ao tentar responder a pergunta que as pessoas insistem em fazer: “E você, está trabalhando?”.
(Não, tô sendo madame na Dinamarca. Nasci pra isso, você não soube?)
Sarcasmos à parte, a verdade é que descobrir o trabalho do coração é uma tarefa mega complexa, que mexe com a gente de inúmeros jeitos. É, no fundo, um grande processo de autoconhecimento. E se nós só começamos esse processo aos 20 e muitos anos — como foi o meu caso — não podemos esperar que da noite para o dia a resposta se revele. Certo?
7. Dá saudades do Brasil e das coisas brasileiras
O Brasil pode ter os problemas que forem, pode estar na crise que for… ele sempre será minha pátria do coração, e eu sempre estufarei o peito e falarei com o maior orgulho que sou brasileira! 💚
Apesar dos pesares, o Brasil é f*da! E o melhor do Brasil, como já sabemos, é o brasileiro. Como dá saudades! Daquele povo alegre, daquele clima descontraído, do calor, do simples e rústico, do pé na areia, do fogão a lenha, da rede na varanda, do mar quente, de pão de queijo, goiabada, doce de leite, tapioca, suco de maracujá, mamão, palmito, abacaxi.
No fundo, essa saudade das pessoas, coisas e lugares brasileiros, é também um reflexo da minha necessidade de me reencontrar, me reidentificar (tópico #5). Isso é importante. Não podemos esquecer (ou pior, negar!) as nossas origens
Essas foram as principais coisas que aprendi em 1 ano na Dinamarca. E você, já morou fora? O que você aprendeu? Conta pra gente aqui nos comentários! 🙂
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Muito Bacana! Show e Manda Brasa!!!
Obrigada, Vlad!! 🙂
Excelente post! Manda Brasa!
Obrigada, Vlad!! 🙂
Amo suas histórias, estou pensando em mudar para Dinamarca (hoje estou na Itália) e ler seus relatos tem me ajudado bastante a reunir o máximo de informações possíveis sobre este país. Parabéns pelas experiências e obrigado por compartilhar.
Muito bom! Voce definiu perfeitamente.
Obrigada por compartilhar seus sentimentos e percepcoes.
Mesmo morando ha 2 anos e meio aqui, muitas vezes me sinto como que no “limbo”, vivendo em um universo paralelo do mundo Marvel, rs rs. E sem saber que personagem eu sou ou quero ser. Muito estranho, quase surreal essas duas realidades.
O mais dificil para mim ate hoje ee o comportamento, como reagir ou nao a certas situacoes: como por exemplo ir show e puxar conversa com dinamarques (estilo Tim Maia: sem retorno).
Ser apresentada a um bebe dinamarques de uma amiga dinamarquesa (fazer gracinhas para o bebe em portugues? ou somente sorrir e dizer parabens pelo bebe. Mesmo querendo carregar no colo e falar tatibitati e brincar de cade o queijinho que o gato comeu ou bambalalao senhor capitao, espada na cinta e sinete na mao.
Parece besteira mas vivenciar diariamente esses pequenos desafios, para mim ee dificil.
Ahhhhh, amei sua história 🙂
Estava procurando algo descontraído de relatos de brasileiros que moram na Europa e simplesmente me apaixonei de cara por essa história !!! Muito bom
Obrigada, Daniel! 🙂
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